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  • Criação para Runarcana

    Criação para Runarcana

    A base desse artigo foi escrita em 2020, com uma atualização em 2021 e agora, em 2023, reescrevo esse artigo após diversas mudanças e consolidações no Runarcana, coisas que aconteceram desde que o artigo foi escrito originalmente. 

    Nesse tempo algumas classes foram removidas, ou absorvidas por outras classes, alguns subsistemas foram reescritos, enquanto outros novos surgiram, como fruto de um projeto que busca seguir suas premissas para chegar a um objetivo.

    O ambiente para o qual escrevo é justamente o ambiente do Runarcana, embora muita coisa dita aqui possa servir como uma base para outros ambientes, as particularidades aqui são muitas então utilize essas informações com responsabilidade.

    Runarcana

    Para o Runarcana RPG, podemos dizer que existem duas camadas de conteúdo, a camada de conteúdo Oficial, que é a inclusa na wiki e no livro, em seguida a  camada “experimental”, que é a publicada no Repositório Magitek, uma publicação enviada aos apoiadores.

    Para a primeira camada, o conteúdo oficial, as regras e as exigências são bem consideráveis, o conteúdo apresentado deve estar de acordo com a lore oficial de Runeterra, não são permitidas criações inteiramente novas e todo conteúdo oficial está sujeito a mudança caso a lore assim aponte.

    Já para a segunda camada, a camada experimental, a exigência se dá abaixo do conteúdo oficial, apenas busco criar novas experiências, sem um foco excessivo em equilíbrio, essas ideias podem ser totalmente originais ou até mesmo desvios e novas explorações do conteúdo oficial,  que procuram não afetar tanto a lore oficial.

    Criando

    Mas como fica isso para a comunidade? Primeiramente, vale lembrar que a comunidade é livre para criar o que quiser, sem a menor necessidade de validade ou mesmo dar satisfações quanto a sua criação. Se você deseja criar conteúdo para sua mesa, quem tem que entrar em acordo são os jogadores e o mestre.

    Essa “criação caseira” é normalmente onde se inicia a trajetória de alguém que eventualmente se torne um criador reconhecido, é necessário errar para aprender, é importante entender que toda jornada tem um início e ele normalmente não é nem um pouco glamouroso.

    Uma vez que a criação tenha objetivo de não ser apenas para uma mesa em específico, mas sim para a comunidade em si, compartilhamento público ou até remunerado, algumas regras surgem para cada caso, embora seja importante analisar cada um com cuidado, é possível trabalhar com algumas generalizações.

    Criação Caseira

    A Criação Caseira é uma categoria sem pretensões e sem grandes exigências, nela é possível criar desde coisas poderosas que não serão aceitas em mesa alguma, até mesmo criações tão fracas que são escolhidas apenas por diversão e entretenimento.

    Quando esse é o objetivo, tomar cuidado com consistência narrativa não é algo mandatório, especialmente se essa criação é tão localizada em uma determinada mesa e uma história, que toda base que dá estrutura a ela está nessa história, é conhecida pelos participantes. 

    Apenas converse com o mestre, ou se você é o mestre, com os jogadores, para que essas criações não estraguem a diversão de todos, saibam atualizar e adaptar conforme surgirem necessidades ou percepções de que algo não está funcionando bem. 

    Criação de Comunidade

    Embora possa nascer como uma Criação Caseira, isso não é uma regra para uma Criação de Comunidade. Enquanto na caseiras regras da casa contam muito, para uma criação de comunidade é esperado da comunidade que exista um equilíbrio mínimo, condizente com o material oficial.

    Essas criações normalmente funcionam melhor quando são disponibilizadas para o público antes de um lançamento final, para que possam receber críticas e opiniões que possam balancear o material produzido. Confiar na capacidade da comunidade costuma ser recompensador, além de conhecer novas ideias e pessoas.

    No nosso Discord existe um fórum exclusivo para isso, o #Comunidade, onde diversas pessoas compartilham suas criações e recebem a opinião de diversos membros da própria comunidade, melhorando essas criações, tornando-as mais acessíveis ou divertidas.

    Criação Comercial

    Uma criação comercial está em uma categoria além da Criação de Comunidade. É imprescindível que, ao se direcionar para esse caminho, você procure esclarecimento suficiente das leis de direitos autorais e tome bastante cuidado para não utilizar a Propriedade Intelectual dos outros, seja empresa, seja criadores. 

    Criar comercialmente requer um conjunto de habilidades e percepções bem diferentes das criações para a comunidade, uma delas é o senso de oportunidade para poder aproveitar tendências no tempo certo, ao mesmo tempo em que se constrói uma reputação adequada.

    Para a criação comercial, embora eu possa falar bastante a respeito na parte teórica, certamente as palavras de alguém bem sucedido nesse campo possuem um peso maior, então não espere grandes elaborações nesse artigo a respeito desse tipo de criação.

    Criando para o Runarcana

    Ao primeiro olhar, fica parecendo que as exigências não são tão complicadas, inclusive alguns conteúdos do Runarcana RPG em sua versão oficial acabam não respeitando totalmente essa regra: Afinal, Bodisatva e Mercurial são classes que não existem de na lore oficial, sendo criações para Runarcana que são extrapolações feitas para que a lore possa conviver com o sistema.

    Mas aí talvez você se pergunte: Se vocês já dobraram as regras da lore em algumas criações, qual é o problema em uma nova criação de outra pessoa dobrar um pouquinho mais? É importante notar que, embora algumas criações do Runarcana RPG não sejam canônicas, elas se apoiam em lacunas que existem nesse cânone.

    É como fazer uma colcha de retalhos apenas com os retalhos de uma fabricante (ou de uma cor) mas como eles acabam ficando em falta, procuramos confeccionar novos retalhos que sejam o mais próximo dos que já foram usados, às vezes destoando um pouco, mas conseguindo se integrar ao todo.

    Basicamente o maior limitador são as pessoas envolvidas e o quão elas pensaram nessas criações, quão fundo elas foram no desenvolvimento dessas ideias e como elas afetam todo o conjunto de regras e cânone estabelecido.

    Ursine

    Um exemplo que tomo aqui é algo que aparecia frequentemente no servidor do Discord, os Ursine. Praticamente todas as semanas surgiam pessoas que queriam criar os Ursine, disponibilizá-los como uma origem ou classe jogável. 

    Ainda veejo que essa premissa se inicia de forma falha, pois o que foi dito em lore oficial e canônica é que os Ursine seguem a Volibear e tem uma mentalidade coletiva, logo, não conseguem ser “indivíduos” totalmente. Logo, exceto se forem feitas abstrações suficientes, essa criação não funcionaria para a comunidade, mas poderia funcionar muito bem para uma mesa em específico.

    Uma pessoa que queira criar os Ursine, fatalmente não conseguirá fazer uma criação que seja aceita para o livro oficial (e sim, isso é um desafio, caso você consiga, parabéns, traga essa ideia para nós) pois a premissa inicial já viola a lore em si. Um indivíduo que seja “Ursine” é uma contradição de acordo com a lore estabelecida.

    Antes que citem a carta de Legends of Runeterra como uma exceção a isso, permitam-me parafrasear um Rioter, que disse o seguinte: “O nome do jogo é LENDA de Runeterra e não Histórias de Runeterra”. Isso deixa bem claro para qualquer um que as Lendas em questão são possibilidades tanto do passado, quanto do presente e quem sabe até, do futuro. Mas nem por isso se tornam oficiais.

    Isso significa que jamais existirá Ursine como algo “jogável”? De forma alguma, afinal, não sabemos o que Riot tem guardado para eles, não sabemos se amanhã ou depois, uma atualização traga a informação de que eles podem sim ser indivíduos e que com isso eles têm o nível necessário de socialização e individualidade para poderem fazer parte de um grupo que não seja apenas de Ursine.

    Talvez o próprio Volibear em algum momento considere importante ou interessante enviar agentes de seu coletivo para lidar com a “civilização” para motivos que apenas ele saiba. Ainda assim, acho isso muito difícil e, como não é a realidade atual, impossibilita que a criação de “Ursine” venha a ser algo que entre no conteúdo oficial.

    Repetindo, isso não invalida que os Ursine possam ser criados para uma mesa em que o mestre concorde com isso ou para a comunidade. As criações nesse campo não estão condicionadas às regras do material oficial do Runarcana, seja ele canônico em Runeterra ou não.

    A pergunta

    Citei esse principal exemplo, pois a primeira pergunta que alguém que deseja criar conteúdo para o Runarcana tem que fazer a si mesmo é a seguinte: O objetivo do meu conteúdo é se tornar parte do sistema oficial ou apenas uma criação caseira, um “homebrew”,  totalmente opcional e não oficial?

    Se a resposta para essa pergunta for que sim, o objetivo é que esse conteúdo seja oficial, então essa pessoa deve ser o mais fidedigna possível à lore canônica. Para isso é necessário ler bastante, principalmente os conteúdos oficiais que estão no site do Universo, mas não apenas isso, atualmente os jogos da Riot Forge ampliaram a realidade de Runeterra, livros como Garen Primeiro Escudo, Ruination ou mesmo os quadrinhos Zed, Lux, Ashe e Katarina, trazem informações importantíssimas.

    Quanto às wikis, algumas delas são focadas em apenas compilar informações oficiais e canônicas, enquanto outras mesclam informações canônicas e não canônicas e algumas até chegam a criar conteúdo próprio baseado em interpretações, sem sinalizar isso. Portanto, é necessário o cuidado de filtrar o que ali é oficial e tem embasamento e o que ali é especulação ou interpretação.

    Já se a resposta para a pergunta for não, o objetivo do conteúdo não é se tornar parte do sistema oficial, então muitas amarras se perdem, a criação precisa ser bem feita obviamente, pois se o objetivo é compartilhar com a comunidade, isso se faz necessário. Também é importante que seja equilibrada, fazendo sentido no universo de Runeterra.

    O caminho para conteúdo oficial é um caminho duro e potencialmente ingrato, pois às vezes você pode empenhar bastante tempo e trabalho para em algum momento dar de cara com alguma informação nova que contradiga o que você criou. Acreditem, é triste perder horas (talvez até dias) de trabalho por não ter feito sua pesquisa bem o suficiente.

    Outro erro comum que acontece com alguns criadores de conteúdo é que eles acabam pensando em coisas grandes ou complexas demais ao invés de iniciarem o trabalho com coisas menores, mais simples e que darão a eles as habilidades e conhecimento necessários para que desafios maiores não destruam seus sonhos.

    Um exemplo é esse documento que foi veiculado internamente no Runarcana chamado “Criação de Classes”, atualizado especialmente depois das mudanças no Runarcana quanto às classes existentes.

    Criação de Classes

    Todas as classes do Runarcana RPG foram criadas tendo em mente alguma função. Inicialmente elas foram criadas utilizando as classes padrão da 5e como base e mexendo em alguns conceitos para torná-las mais próximas de Runeterra e um pouco mais genéricas.

    Depois de 4 anos de existência, muitas coisas mudaram, ao passo que o sistema em si se tornou autônomo, não mais condicionado a outro sistema, até mesmo essas classes tiveram que passar por mudanças, com algumas sendo até mesmo retiradas, algumas sendo absorvidas por outras e até uma nova classe surgindo.

    Atualmente, todas as classes de Runarcana partem de conceito, algo que a conecta não apenas a um campeão ou mais campeões, mas também a uma fantasia em específico que pode muitas vezes ser apresentada em uma carta do Legends of Runeterra ou como um personagem de um dos jogos Riot Forge.

    Ao pensar em criar uma classe primeiro se faça as seguintes perguntas:

    1. Qual é o conceito dessa classe? 

    Toda classe precisa ter um conceito, o combatente por exemplo é alguém que se empenha em se tornar cada vez mais hábil em combate, com uma arma ou estilo de combate, já o Bodisatva é alguém que busca aprimorar o seu corpo em harmonia com seu espírito ou mesmo o Arcano, que é alguém que possui magia e a desenvolve através de estudo ou do próprio auto-fortalecimento

    2. Qual é a lacuna que eu encontrei e que a criação dessa classe preenche? 

    Classes são peças imensas na construção do bloco lógico de um sistema, elas podem afetar todo balanceamento de equilíbrio se não tiverem uma concepção adequada. Qual foi a necessidade de se criar os Acólitos? Em Runeterra a magia “divina” emana não de divindades, mas do poder coletivo das crenças, uma realidade diferente da magia arcana.

    3. Estou realmente criando uma classe?

    O que faz a sua criação precisar ser exatamente uma classe? Ela tem algum sistema interno que a inviabilize de ser uma subclasse? Ela faz algo muito específico e que ainda não é coberto por nenhuma classe independente do nível de especialização da mesma nisso? Ela possui algum recurso que, para ser devidamente apresentado e trabalhado precise dos 

    4. Isso não se enquadraria mais como um ofício ou uma Runessência?

    As Classes podem ser vistas a grosso modo como um conjunto de habilidades e características comuns a como uma pessoa resolve seus problemas. Não é uma profissão, pois um Combatente pode ser um vidreiro, ou mesmo um Arcano pode ser um Cuteleiro, as profissões são enquadradas nos Ofícios. Um Caçador capaz de utilizar poderes elétricos pode tanto ser um conjurador, quanto possuir uma Runessência para isso. 

    5. Quão genérica ela é que possa existir em mais de um lugar ao mesmo tempo? 

    Embora o Bodisatva seja originário majoritariamente de Ionia, nada impede que um monastério seja erguido em Shurima ou em Águas de Sentina. Todas as classes são viáveis em qualquer lugar do mundo por serem “respostas” a necessidades que são comuns a todas as regiões, independente do nível dessa necessidade. O Xamã por exemplo, embora seja uma figura apresentada exclusivamente em Freljord na lore canônica, foi concebido para poder existir em diversas regiões.

    6. Minha criação não ficaria melhor  como uma subclasse ou um recurso?

    Se a sua classe é feita de alguém que luta com uma arma e lança feitiços específicos, ela não se enquadraria melhor como um Combatente com a técnica Combate Arcano? Ou ainda, um Bruto capaz de conjurar magias, não seria da subclasse das Cicatrizes Rúnicas?

    7. Qual é o recurso único dessa classe que a difere das outras?

    O Acólito possui a magia divina e sua liturgia, o Xamã possui sua relação com seus Aliados Espirituais e Grandes Espíritos, todas as classes possuem algum recurso essencial para sua existência que faz com que elas sejam realmente diferentes umas das outras. 

    Muito provavelmente as respostas a essas perguntas não serão satisfatórias, o que deve levar você a perceber que o melhor é talvez criar uma nova Subclasse, as subclasses são espaços excelentes para se desenvolver novas ideias por terem pequenos espaços (slots) onde nova habilidades e características podem ser inseridas, respeitando o conceito geral da classe e diferenças de poder concernentes aos níveis respectivos.

    Recomendo adicionalmente a leitura desses dois links:

    https://www.rederpg.com.br/2015/06/24/dd-5a-edicao-unearthed-arcana-modificando-as-classes/

    https://medium.com/dw-magazine/dungeon-world-quando-voc%C3%AA-quer-criar-uma-classe-2466453574c8


    De forma alguma desejo desencorajar novas criações, mas assim como os que vieram antes de vocês, em última instância, se você tem vontade de criar algo, crie! Apenas leve em consideração essas dicas pois um conteúdo criado sem capricho, certamente seria uma perda tempo para o público e para quem o lê, percebendo que não foi feito com uma real vontade de fazer algo incrível.

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